sexta-feira, 2 de julho de 2010

Encerramento de Escolas e Politiquices



Estalou o verniz… Vão ser encerradas as escolas com menos de 21 alunos! Este Sócrates é mesmo mau!


Agora mais a sério.


É um facto incontestável, que a escola foi, e ainda é em certos casos um ponto de referência dos lugares mais longínquos e recônditos do nosso país. Qual de nós não conhece uma “escolinha” lá no alto da montanha, que outrora estava repleta de alegria, risos, movimento e crianças, na sua vulgar estrutura física do Estado Novo! Era tão bom ver aqueles campos pelados, cheios de crianças aos pontapés a uma bola “rota”, a fintar uma pedra e marcar golo numa baliza feita com os cadernos de matemática e um paralelo habilmente roubado da rua nova (já empedrada!). Qual de nós não levou com o chinelo da mãe por chegar tarde a casa, claro está, por ficar no campo da Escola a jogar à parede, ao mata, jogar ao “bota fora” e ao “vira pra-trás”? até mesmo por partir a “ardósia”!!!


É mesmo isso, eram outros tempos e agora os garotos só querem saber da “playstation” e dos Morangos com Açúcar! Mas este não é bem o tema que me levou a escrever aqui hoje…


Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que sou frontalmente CONTRA o encerramento de Escolas, mas apenas e só depois de ponderados todos prós e contras. Se é certo que ao nível da sociabilização uma escola com 10 alunos desempenha um mau serviço público, também é verdade que ao ter que percorrer 50km em estradas péssimas, uma criança também não está em condições de dar o seu melhor e consequentemente ser um valor futuro do nosso país! Também é verdade que as crianças devem estar o mais próximo possível das suas famílias, na sua “terra”, com os seus amigos, mas também é notório, que as ditas “escolinhas” não dão hoje em dias as mínimas condições para o bom desenvolvimento harmonioso e integral das crianças… em toda a sua plenitude!


Mais argumentos há a esgrimir acerca deste tema, todos eles com mais ou menos fundamentação, mais ou menos válidos, mais ou menos exequíveis, mais ou menos apaixonados, no entanto o que me preocupa é toda a politiquice exacerbada que se vê em torno destas questões. Reportando-me a Bragança… atente-se:


Da parte dos Municípios e Juntas de Freguesia critica-se veementemente o Governo por esta medida, no entanto questiono-me se por terras de Sua Majestade não há políticas proactivas? Se não se age, mas apenas reage… Como diz o POVO: “Casa roubada… trancas na porta”!


As escolas só são encerradas, porque não há crianças, não há população, não há gente, não há nascimentos, não há emprego, não há investimento em pessoas, não há políticas de juventude, não há incentivos à fixação de empresas e pessoas, não há mentalidade nem atitude dos líderes regionais! Há antes acomodamento, pouca visão, falta de planeamento, “paralelo” a mais e até massa cinzenta e crítica a menos! Enfim!


Recentemente a Autarca de Izeda desceu a um nível que pensei não poder a mesma descer, dado o respeito e consideração em que a tenho, no entanto, ao acusar o Coordenador Regional de colocar interesses pessoais em detrimento dos interesses da Escola onde o próprio está colocado. Cito (in Rádio Brigantia 21-06-2010):


“a proposta foi elaborada pelo coordenador da equipa de apoio às escolas que é professor efectivo em Izeda e isso leva-me a pensar que ele está com medo de voltar lá e quer garantir em Bragança o lugar de professor efectivo”.


Face a esta postura, pergunto quais foram as políticas que a mesma autarca desenvolveu no sentido de incentivar a natalidade, a fixação de empresas e jovens, os postos de trabalho que foram criados nos seus mandatos, as diligencias efectuadas no sentido de uma melhor adequação da carta educativa, qual foi o seu contributo para evitar que este encerramento fosse uma preocupação… ou só agora notou que Izeda estava a perder habitantes? No mínimo… INTRIGANTE falha!


Citando a mesma entrevista:


“Somos demasiado pequenos para nos fazermos ouvir e lutar contra uma estrutura organizada. Não sei se iremos partir para uma nova forma de luta, mas nós não vamos esquecer e no momento oportuno eu irei mostrar o meu descontentamento”


Espero que essa luta seja feita em frente à Câmara Municipal de Bragança, liderada por um Presidente da “mesma cor” política, pois esse é um dos principais responsáveis pela Centralização que se tem vindo a verificar. Centralização essa, face a Izeda, porque em relação a Vila Real, Mirandela (…) e mesmo outras cidades do Litoral, não tem sido mais do que INOPERANTE e CONFORMADO. Relembro apenas que crianças que vivem a 3km de Izeda, frequentam a escola a mais de 15km e em certos casos, a mais de 30km…


Não, não concordo com o encerramento da escola de Izeda. Não, o responsável não é o Governo, mas sim a Autarquia de Bragança e Junta de Freguesia de Izeda. Não, a população não deve ficar parada, mas avançar para o protesto. Não, não acho que uma criança de Izeda deva andar 100km por dia para ir ter aulas a Bragança. Não, não acho que Bragança justifique 2 novos Centros Escolares. Não, não posso concordar com o investimento em “paralelos” deixando as pessoas em 2º plano. Não, não posso aceitar de ânimo leve a ligeireza com que alguns políticos aproveitam casos destes para auto-promoção pessoal e intervenções mais populistas que necessárias. Não, não vislumbro melhorias, tendo em conta o actual modelo e atitudes dos Autarcas locais. Não, não vou baixar os braços na defesa daquela terra que me viu nascer.


Os tempos são outros, as exigências são outras e num contexto global, a escola deve-se adaptar as contingências que esta sociedade hodierna nos impõe! Assim sendo e tendo em conta todos os condicionalismos inerentes aos objectivos de uma Educação para o Século XXI, mudanças devem ser operadas para que se possa tirar o máximo proveito das condições de que são dotadas as escolas, no entanto, sem se por de lado o “interesse público” que representam as Escolas em certas localidades e que as mesmas distam dos novos Centros tal distância, que não justifique o encerramento das mesmas.


Fale-se do superior interesse da criança, fale-se de sociabilização, mas acima de tudo fale-se de desertificação, desemprego e desinvestimento nas pessoas!